O DUQUE SEM NOBREZA
Parecia que o cidadão brasileiro, cumpridor de suas obrigações, pagaria as despesas de viagem de Renato Duque das celas da Polícia federal do Paraná para Brasília e de Brasília para o Paraná, feita sob convocação da CPI-2 do Petrolão.
Parecia que seria mais uma conta inútil para o brasileiro pagar pelo ir e vir de um homem acusado de ser o líder de uma facção da quadrilha que tomou de assalto a Petrobras e tudo o que há de mais valioso na estrutura administrativa do Estado brasileiro.
Mas, nem tudo nesta vida é aquilo que parece. Renato Duque, não deu um pio.
Não respondeu a nenhuma das perguntas que lhe foram feitas e até as que não lhe fizeram.
Permaneceu calado. E assim, com o seu silêncio retumbante, mostrou quem é ele verdadeiramente nessa República de Calamares.
Quer dizer, parece que não disse nada e, no entanto. disse tudo
Só um ser abjeto capaz de suportar calado todo o tipo de imputação que caiba num corpo desprovido de alma, de sentimento humano e do senso de ética e de moral; só alguém desprovido de qualquer sentido de humanidade, seria capaz de suportar uma avalanche de acusações que vão de furto simples a formação de quadrilha. Se o silêncio é de ouro, Renato Duque deu um tesouro aos seus acusadores.
Nunca antes na história desse país, um duque demonstrou tão pouca nobreza diante de uma execração tão pública e avassaladora. Renato é um Duque sem sangue azul e o que tem de vermelho não é sangue, eis que nada além de água fria, gélida lhe corre nas veias. É um fenômeno de má Criação.
Renato Duque é um profissional da arte e manha de fazer as coisas em silêncio, de agir na calada do dia e na calada da noite.
Nunca, no entanto, o silêncio deu tanta demonstração de culpabilidade, tanta certeza da culpa de um suspeito aos representantes da lei e da Justiça.
E a tal ponto o seu silêncio gritante valeu ouro que Renato Duque entrou na Câmara Federal como um acusado e dela saiu como um reles condenado. Seu silêncio a cada pergunta que lhe foi dirigida calou fundo no espírito de Justiça daqueles que, mais cedo ou mais tarde, o levarão à condenação que fez por merecer.
A não ser um ladrão, nenhum cidadão honesto e inocente, aguenta ser chamado de ladrão. Ao calar-se, Renato Duque se condenou até à medula óssea que, a bem do que está na cara, não presta para nada, já que ninguém gostaria de ter no corpo, nem para salvar a própria vida, uma parte tão infame, venal e desprezível.
Renato Duque entra mudo no Congresso Nacional como Renato Duque, o Tal da Petrobras e sai calado como o Marcos Valério, bode expiatório do Mensalão.