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29 de abr. de 2015

A GENTE ANDA CHEIO DE
RAIVA, DE MEDO, DE INDIGNAÇÃO...

A gente já anda cheio de raiva, de medo e de indignação pelos abusos que sofremos todo santo dia praticados pelos bandidos do asfalto, pelos arrastões, pelos sequestradores, pelos donos do poder que, em nome dos governos que sofremos, se apropriaram do nosso país e das nossas esperanças...

A gente está tão cheio de raiva, de medo, de indignação e ainda é cutucado por insanidades cruéis como essas execuções a fuzil, cadeiras elétricas, injeções letais - cometidas por autoridades de tamanho poder que decretam a vida e a morte de uma pessoa assim como quem troca de camisa manchada de batom, ou de cueca suja de dólares deslavados.

Sei lá, por que não falei em decotes esgaçados a mãos quase limpas e intempestivas, ou em calcinhas manchadas de sêmen...

SEI LÁ...

A gente anda tão cheio de raiva, de medo e de indignação pela decadência dos Poderes constituídos que, ao tentarmos nos livrar das armadilhas da manipulada máquina governamental, caímos de bruços nas garras de um Parlamento pútrido e corrompido e, quando dele conseguimos nos livrar, batemos com os dentes de frente no aparelhamento do Judiciário.

É assim que, de quando em quando, a gente sonha com a volta da Lei de Talião, aquela coisa do dente por dente, olho por olho. E dá vontade de roubar dessa gente que nos rouba; e de matar essa gente que nos mata.

O GRANDE MAL

O grande mal, o pior mal que os malfeitores nos causam é que eles transferem para cada um de nós a crueldade de seus delitos, de seus crimes, de seus malfeitos.

Se o cara mata a mãe da gente, a gente tem vontade de matar a mãe dele; se o cara estupra um amor da gente, a gente quer que alguém estupre a infeliz que tem amor por ele; se o cara rouba da Petrobras, ou do Palácio do Planalto, de um reles ministério e fica rico, a gente quer ficar rico assim do mesmo jeito.

É a lei da bala com bala. Do troco, do revide. Pior: é a lei da macaquice, da paródia, da imitação. É o espírito de duende embriagador desse Brasil da Silva que se alastra e se incorpora nos brasileiros que ainda acreditam no Brasil da Lava-Jato.

NOSSA PENA DE MORTE

Gente, a gente anda tão cheio de raiva, de medo, de indignação que nem se dá conta de que a pena de morte já existe no Brasil, desde que Pedro Álvares Cabral saiu atrás das Índias e se enganou com a batina do Padre Anchieta.

A pena de morte está ao nosso alcance lá no Código Penal, sob a capa e o disfarce da Legítima Defesa. Então a coisa é esta: devagar com o andor que a gente é crente, crédulo, sincrético, até católico apostador romano e o santo é de barro.

Basta esperar que ele caia - e a gente pode até dar um jeitinho de que ele se estrebuche - para que se faça justiça. Com as próprias mãos. Mas sempre com o sério risco de cortá-las, de feri-las com os cacos do ídolo caído.

PRIMEIRO, A REVOLUÇÃO ÉTICA

O que não se pode fazer nesse Brasil da Silva é adotar oficialmente a pena de morte. É que por aqui não há organismos nem autoridades que mereçam a nossa confiança para que tenham ou detenham o poder da vida e da morte sobre a gente; sobre as gentes.

O Brasil precisa primeiro - vou me repetir aqui - de uma Revolução Ética. Um revolução de costumes que nos garanta que o direito moral não continuará escravo, como tem sido até aqui, do direito formal. O Brasil precisa derrubar o império dos procrastinadores da lei e da justiça.

Para começar, a gente precisaria apenas que as sentenças fossem cumpridas pelo tempo em que as leis hoje determinam. De fio a pavio, de cabo a rabo, do princípio ao fim. Sem progressões, sem concessões, sem visitas íntimas, sem saidinhas de Páscoa, Dia das Mães, Natal e Ano Bom e muito menos, sem saidinhas de banco para lavagem de pistas e de dinheiro.

Que cumprissem todos as penas a que foram condenados, sem distinção de raça, de cor, de riqueza ou pobreza, de clube de futebol ou de partido político. Pagando, todos, sem exceção, com trabalho no tempo de cárcere pela comida, pelo pão de cada dia e pelos remédios que precisarem.

Isso seria muito mais que pena de morte; pena de vida.

PELA MORTE DO BANDIDO

Se assim fosse, ou se assim ainda vai ser um dia, pode até alguém pensar no estabelecimento da pena de morte pelo Estado perfeito e competente.

De minha parte já vou dizendo: sou contra a pena de morte, mas não sou contra a morte do bandido. Simples assim: se contrário fosse, eu estaria arrepiando o instituto da Legitima Defesa da vida, do patrimônio, da honra... E me livrem todos os santos que não sejam de barro, desse pecado mortal.

MENOS ELES

Ah, essa coisa da pena de morte não é pro nosso bico; nem pro bico-surubico que nos deu tamanho bico por nascer num país tropical que já foi abençoado por Deus e bonito por natureza. Não é pro nosso bico, por que nesse Brasil da Silva o crime organizado saiu das ruas e entrou para o Estado.

E somos todos iguais perante a lei, menos os que mandam na gente.