O RAY CHARLES BRASILEIRO
NÃO SE DROGA E NÃO SE ENXERGA
Eu ontem, sem mais o que fazer, assisti pela undécima vez o filme documentário Ray... Trata da vida de Ray Charles. Enviado a um internato para cegos pela mãe que o amava, mas não podia sustentá-lo, ele só levou consigo para a vida um pedido materno: - Não seja e nem deixe que o transformem num inválido.
Músico dos pés à cabeça; da medula aos nervos óticos; da razão ao coração, ele foi um superstar. Nunca precisou ver os obstáculos que tinha pela frente para poder vencê-los.
Pelo meio do caminho, as drogas tomaram conta de seu sucesso. Andou pelas latas de lixo da existência. Até que se deu conta de que ele próprio se fizera um inválido. Ele não tinha vindo ao mundo para fracassar.
E, aos tropeços tantos, ao se enxergar, voltou a ser o homem que sua mãe - que nasceu pobre e analfabeta - havia previsto que ele seria quando não fosse e não deixasse que o transformassem num inválido.
Depois de sair do fundo do poço, ele teve mais 20 anos de estrelato. nesse tempo combateu os preconceitos de raça e de diferenças sociais. Deixou mais de 20 milhões de dólares em doações para instituições beneficentes.
Bem parecidinho a um Cara que a gente conhece. Um Cara, nascido de mãe pobre e analfabeta; um Cara que enxerga longe; que chegou ao topo e se tornou um inválido; um fracasso.
Esse Cara parece que bebe. Mas, este não é o seu maior fracasso. O seu fracasso é que ele ainda não se enxergou por dentro; o seu maior fracasso é que ele pensa que não veio ao mundo para fracassar. Ele não se enxerga. Ele fracassou a si mesmo: tomou um porre de si próprio. Ele não se droga; ele é a própria droga. Ele não tem cura.