OS ANIMAIS SOCIAIS TOMARAM OS
MECANISMOS DE DEFESA DO CIDADÃO
Hoje é domingo, tempo é que não falta. Já dei a minha caminhada pelo condomínio. Aqui é uma espécie de paraíso: tem gente nova, tem idoso, aposentado, pé na cova, mas... não tem cachorro. E não, o papa Francisco não mora aqui.
E assim é que tenho quase o domingo todinho para escrever o que me der na telha. Só vou dar um break para o almoço e às quatro da tarde me espicho no sofá para ver a Marta - o Neymar da Seleção Feminina de Futebol - dar um show de bola no time dos Estados Unidos.
Só peço, uma coisinha para a Marta: que ela não meta os peitos daquela goleiraça americana pra dentro das redes. Pode fazer gol, mas com jeitinho. E então tá.
Ainda não é hora do almoço e nem do jogo aqui no Maná Garrincha, onde não vou por absoluta convicção de que aquilo é parte do rombo de R$ 3,5 bilhões que o Argh!nelo Queiroz está deixando para o próximo governador do Distrito Federal.
E eis que chegamos aqui, ao fim dos prolegômenos. Vamos à coisa que me deu na telha...
Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim... Todos nós temos direitos e deveres - que uns e outros também chamam de obrigações. Os deveres começam quando aparecem os direitos dos outros. São direitos iguais aos direitos que nós temos.
Vejo que os direitos deles têm, como os nossos, quatro dimensões dentro daquilo que se chama desgastadamente de cidadania: dimensão civil, política, econômica e social.
O que a gente precisa fazer é apenas ter aptidão, ter capacidade de exigir e lutar pela garantia desses direitos. E fazer isso, sem ferir ou tolher os direitos dos outros.
Ninguém de sã consciência seria e nem é capaz de realizar essa obra humana absolutamente solitário e sem licitação. Afinal, ninguém é, sozinho, uma empreiteira, uma grande construtora de carne, osso e com duas pernas como alicerce.
É, pois, justamente por isso que surgiram nas democracias de boa índole e nas sociedades livres as organizações de defesa do... - desculpem a vituperação - do cidadão. Cidadão, reconheça por favor, sou eu e é você e são os outros e somos nós, todos nós.
Organizações de defesa da cidadania, vamos combinar, são organismos, instituições, empresas públicas, privadas ou da sociedade civil...
Surgiram para defender e orientar os seres animados que habitam essa terra que tem palmeiras onde canta o sabiá. Defender e orientar-nos - como povo devoto no além e crente nos homens de temperamento difícil, tanto na defesa dos nossos direitos, quanto no cumprimento dos nossos deveres.
Tá bonitinho, né não? Tá, tá bonitinho, mas não mexe. A grande joça dessa porcaria de regime que nos engole e fascina é que os políticos - os animais sociais - de todos os calibres, atingiram esses alvos primeiro, antes de nós. E acertaram na mosca, dona Judith; usaram Super-Flit.
E então o que nasceu com a Constituição-Cidadã de 88, morreu na casca, morreu de morte matada.O que era do Estado e para o nosso estado de bem-estar, se tornou aparelho do
governo; mais que do governo, aparelho do regime, células articuladoras, com cara de máquina administrativa pública.
Eles se acomodaram em todas a salas e poltronas que puderam nas defensorias públicas, nas promotorias, nas comissões dentro das Assembleias Legislativas e do Senado, nos juizados especiais, nas pequenas e grandes causas, nos escritórios de Procon que tenham brecha, nas ouvidorias.
Estamos hoje cercados de mecanismos de defesa que já não nos defendem e até ofendem; mecanismos com feições de ONGs, Oscips, associações, institutos, clubes, grêmios, partidos políticos e gangues de interesses específicos. Tudo dominado.
O cidadão de boa índole que habita esse solo fértil e gentil é um náufrago despojado em uma ilha de dependências e incertezas, cercada de entidades sobrenaturais que têm o mapa da mina e a chave do tesouro que deveria garantir os nossos direitos.
O que era para nos defender, hoje é instrumento de pressão e barganha dos que tomaram de assalto a democracia e montaram o estado bolivariano da Silva.
Os animais sociais invadiram ferozmente os arquipélagos que abrigam os mecanismos de defesa da cidadania. Estamos ilhados. Ao Deus dará.
Mas, os aguapés se mexem. As águas deslocam as ilhas. Quem sabe tudo se transforme num enorme cabo de guerra que invada a praia que hoje é deles... Quem sabe.