ESTE NÃO É UM ESPAÇO PARA FAZER AMIGOS; É PARA INFLUENCIAR PESSOAS.



3 de fev. de 2011

Sanatório da Notícia


A Cara da Liturgia


Aí, você fica pensando: se era para mostrar aquilo que mostrou e dizer aquilo que disse, por quê Dilma foi ontem ao Congresso Nacional?

Aí, você mesmo responde: Dilma foi lá apenas para cumprir a liturgia do poder.

Simples assim? Nem tanto. Liturgia do poder é invencionice do Sarney; Lula fazia metalurgia com o poder.

Assim é que, então, é fácil de se ver: Dilma está cada vez mais com a cara de Sarney do que com o dedo de Lula.
Eis que aparece Frank Sinatra e, com a Voz, o mundo aprende a namorar. Foi assim, até que surgiu o rock 'n roll com Bill Haley e seus Cometas. Foi legal e coisa e tal até que Elvis Presley botou pelvis na Terra. Reinou e se foi embora cedo demais para dar vez aos Beatles.

Revirando o baú, o Garanhão rememora que por aqui, o samba de Cartola tirou o chapéu pra a bossa de Tom Jobim que pegou a poesia de Vinícius e saiu por aí de barquinho levando a Garota de Ipanema para os quatro cantos do planeta.

Foi mais ou menos o que Astor Piazzolla fez com o tango de Gardel que já chorava suas mágoas para os boleros de Ravel a Manzanero que inventou o mexicano Luiz Miguel.

Pelo dossiê - que prefere chamar de banco de dados - o Garanhão relembra que foi assim, como a brisa na preamar, que se deu no futebol.

Ia tudo pra lá de muito bem de Yachin a Frendereich, até que nasceu a bola e com ela, Pelé e seus fantásticos coadjuvantes: Garrincha, Didi, Gerson, Nilton Santos.

O futebol teve então que esperar muito tempo até que a mesmice ganhasse alegria nos pés cheios de novidades de um guri medonho, de firulas novas, cheio de charme e matador como um James, James Bond. Seu nome, Ronaldinho - Ronaldinho Gaúcho. Muito prazer...

Quando já estava ficando chato dividir bolas de ouro com o Fenomeno e com Romário, eis que aparece Robinho - o desconcertante, repleto de talento, mas de reduzida persistência. Pronto, era o que faltava para que o terceiro milênio fosse invadido por Neymar e sua geração de moleques.

Neymar não precisa se meter de Pato a Ganso, basta que jogue como Neymar e que possa mostrar o seu futebol de fina estampa. A bola de Neymar é fina; ele é fino. Cavaleiro de fina estampa, Neymar monta e desmonta marcadores. Ainda vai levar muita patada.

Tomara que a grossura de um zagueiro 007 não libere o código de matar jogadas para acabar com o seu futebol antes do tempo. Neymar é fino demais pra bolinha que andam jogando por aí.


Autoridade Olímpica: pior que tá não fica!

Então tá, faz de conta que a gente é bobo. Faz de conta que a gente acredita que Henrique Meirelles, depois de ter a chave do cofre do Banco Central do Brasil, vai se contentar em ser um mei/reles encarregado-geral da Autoridade Pública Olímpica.

Meirelles, no fundo, no fundo, ainda quer ser grande coisa na História do Brasil. No mínimo, vai querer em 2014 o lugar que Dilma lhe tirou em 2010. Pra isso ele precisa de respaldo; de visibildade e de bufunfa; de bijuja, grana...

Pois Henrique Meirelles vai receber pelo doloroso encargo de dirigir a autarquia do governo que terá mais visibilidade até 2016 - por causa da Copa em 14 e dos Jogos, dois aninhos pra lá - o salário mínimo de R$ 22 mil mensais.

Isso é ajuda de custo para coordenar o planejamento das obras para a Olimpíada de 2016, no redivivo Rio de Janeiro. A Autoridade Pública Olímpica só neste 2011 se refestelará com um orçamento de R$ 123 milhões. Não é nada, não é nada, 10% disso aí daria, se alguém fosse receber por isso, uma tiriricazinha de mais de R$ 12 milhões. Se acha que é pouco, então saiba que até 2016 essa brincadeira de extremo bom gosto está orçada em cerca de R$ 30 bilhões.

É disso que se está falando. Henrique Meirelles, procurado e requisitado pelos maiores conglomerados financeiros do mundo, está de olho apenas no salário público e notório de R$ 22 mil. O mesmo que ganha um presidente de honra do PT ou coisa que o valha.

Meirelles nem de leve ousa mirar a Autoridade Pública Olímpica como uma vitrine descomunal para o reflexo que uma Copa do Mundo vai projetar no País do futebol; nem sequer lhe passa pela cabeça as imagens que o espelho dos Jogos vai refletir até 2016. Deus nos livre e guarde de pecar por pensamentos, palavras e obras de que este seja o melhor caminho para sua candidatura ao Palácio do Planalto daqui a menos de quatro anos rápidos e rasteiros.

Se não chegar a tanto, pelo menos será o vice de Lula que ainda não botou os pés no chão, nem desencarnou da Presidência. Nada mais tão lógico quanto distante do absurdo, posto que o sacrifício que faz Meirelles entregar-se à liturgia de comandar um organismo que oferece hoje nada menos do que 200 vagas sem concurso ao módico salário de R$ 22 mil mensais, lhe foi imposto por Lula que fez Dilma bater o martelo na hora de sua extrema unção.

A martelada foi dada com o maior prazer nos dedos da turma do PCdoB que queria o cargo para o ínclito Orlando Silva. A batida acordou o PT que dormia no ponto, como de hábito faz o mau trabalhador em hora de expediente. Aí, já era tarde, Inês estava morta.

Assim é que, dando uma no prego e outra no dedo, a presidenta livrou o partido de abrir as portas para mais um provável ciclo de escandalos, já que indicaria seus especialistas habituais como Zé Dirceu, Delúbio, Genoino...

O olhar de lince do PMDB viu que havia além do arco-íris, um pote mais cheio, pra lá, bem pra lá do fim do mundo das estatais e dos cargos e encargos que garimpou e arrebanhou na Esplanada. Aí, meus caros, vale a força das leis. Pela Lei da Selva: matou tem que comer; pela Lei do Futebol: quem não faz, toma;  pela Lei da Vida: quem não mata, morre; pela Lei dos Ligeiros: viu primeiro, pega.

Henrique Meirelles, já se vê, é um altruista; um patriota; um monge feito pelo hábito, um franciscano que, se não fez voto de pobreza, quer fazer muitos votos lá adiante. E, ao fim e ao cabo, meio elefante numa sala de cristais, pega o prato frio que reserva àquela por quem morre de amores desde que lhe puxou o tapete na dança da cadeira presidencial.

Diz a turma de Helena Chagas - filha do venerando jornalista Carlos idem - que a indicação de Meirelles foi um mimo de Dilma para Lula que queria, porque queria, compensar Meirelles pela bola nas costas que lhe enfiou, quando preferiu ser sucedido por um poste ao invés de ser trocado por uma chave de cofre.

Em verdade, em verdade vos digo, degradados filhos da mãe do PAC: Henrique Meirelles é autoridade olímpica porque o PMDB quis que ele fosse. É o pulo do gato que o PMDB quer dar agora que já está cansando de ser coadjuvante de tudo que é governo que aparece no Brasil.

Em 2014, Dilma que se cuide. Além de Lula, Meirelles vem aí. A essa altura, cabe só uma observação dessas bem mei/reles calhordas: essa Autoridade Olímpica pior do que tá não fica.