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3 de abr. de 2015

NO MUNDO DO CRACK
A NASCENTE É POENTE

Ainda que mal pergunte: por que um procurador-geral, ou um ministro supremo não podem cair em tentação? Então, ainda que mal responda: ora, por que têm grandes salários como antídoto às fraquezas do poder.

E eis que, de repente e não mais que de repente, Lula se intromete em meu monólogo - como se mete em tudo, mesmo não sendo nada na vida da gente e desse país: "Isso é uma faca de dois legumes. Veja, os grandes salários servem para garantir a pobridade, ops!, probidade dos quem têm autoridade, mas também servem como dívida de gratidão ao governante que lhe deu a boca-rica".

Falou e disse. Lula não deixa nada passar em brancas nuvens. Ontem mesmo, sem que ninguém lhe desse entrada, ele se meteu até na morte trágica de Thomaz Alckmin e garatujou numa folha timbrada do instituto que rouba o nome, uma melodramática mensagem de pêsames à família enlutada do governador Alckmin. Ele é assim, se mete em tudo. Ele é aquele que te promete dar um cachorro e acaba te dando bola.

Mas, nem era disso que eu falava comigo mesmo. O que eu me perguntava e me respondia era um ensaio sobre o aparelhamento do Estado pelo poder estabelecido e as agruras pelas quais estão passando mensaleirões, petroleirões, consultores e empreiteiros, em razão da Operação Lava-Jato que resolveu passar o Brasil a limpo.

E eu tinha começado a pensar com meus botões sobre isso, quando Lula se intrometeu na minha linha de pensamento. É que ele não é trouxa, sabia que ia sobrar pra ele e seus sócios de sigla já quase em extinção. Tentou continuar metendo o nariz onde não era chamado, mas eu fiz o que ele já está acostumado que façam com ele: eu o escondi embaixo do tapete.

Posso, pois, retomar meu monólogo. E então me digo: todos os brasileiros, menos os petistas e seus militantes-satélites, estão adorando, quase venerando os delatores premiados. É que antes seu silêncio valia prata e sua palavra hoje vale ouro.

E me pergunto, por que os petistas e seus associados não gostam dos delatores? Acho que o seu presidente de honra poderia explicar. Mas não vou levantar o tapete agora para tirar a sujeira toda que eu, assim desleixado como um bom conselheiro de estatal, nem saberia onde colocar.

Concedo-me o direito de seguir adiante, sem maiores curiosidades, já que tenho minhas idéias a respeito, E vô que vô, porque eu tô que tô. Sozinho eu falo tudo que me dá na telha.

É o seguinte, Serjão: não há um só brasileiro, salvo as horrorosas exceções, que não saiba que esse mar de lama que escorre pelo país tem como nascente a rampa do Planalto Central do Brasil. A fonte do poder de um governo nas democracias fica bem aonde? Tem endereço certo e sabido.

E quem habita esse lugar? O mordomo, a mulher do cafezinho, o guarda-costas, os consultores, os empreiteiros, os operadores?!? Ah, deixa estar.

Quando eu vejo que todo mundo faz cara de paisagem para essa fonte inesgotável de saber; de saber das coisas, de saber de tudo que acontece e ainda assim fazer de conta que não vê nada, não sabe de nada, não faz nada, sou acometido pela profunda sensação de que esse governo parece que fuma crack. Para eles a nascente é poente. É muita alienação. Tanta que não tem cura.