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12 de ago. de 2013

A boavida do pós-guerra

Eu nasci em 39, quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, exatos 25 anos depois de minha mãe, Evalda Thereza que veio ao mundo quando estourou a 1ª Grande Guerra.

Assim como ela, eu também juro por "essa luz que me ilumina" - como jurava o Canelão - que nem eu e muito menos ela tivemos qualquer coisa a ver com isso.

Quero dizer apenas que, naquelas duas épocas de pós-guerra, não se passava fome e, até pelo contrário - salvo o pão, escuro e endurecido pela escassez da farinha e do fermento - se comia do bom e do melhor.

É que, 90% do que vinha para mesa saía dos quintais de nossas casas. Pelotas era uma cidade emergente, cercada de quintais por todos os lados. E tinha uma enorme vocação colonial. Tanto quanto um entreposto comercial, era uma cidade de sólida produção agrícola e boa vida pecuária.

Aí vieram os tambos; e vieram os colonos para o colégio e a região rural da minha pátria pequena que deixei aí no Sul foi se esvaziando e, a pouco e pouco, paulatina e rapidamente a Colônia descobriu que era mais bonito viver de turismo. Hoje, não vive, sobrevive disso aos trancos e barrancos, com enorme saudade dos tempos campesinos e da vida de gado.

O que eu quero dizer é que hoje, a velha geração se contenta com a distância dos filhos e netos, desfrutando de tudo quanto lhe sobra do pequeno salário da grande aposentadoria rural.

O que quero dizer mesmo é que seus filhos e netos gostam mais de viver na cidade gozando uma degradante bolsa família, na esperança de ter um dia a sua casa, sua vida, do que usar a digna enxada, ou viver as manhãs de ordenha e as tardes da volta do rebanho aos currais que um dia fizeram Pelotas ser uma cidade pungente e rica.

Nasci em Pelotas, durante a Segunda Guerra Mundial, comi do bom e do melhor. Os dias de feira eram todos os dias, sem sair de casa, num rotineiro passeio pelo quintal colhendo frutas e legumes, nesses pequenos e férteis pedaços do solo brasileiro onde, em se plantando, tudo dá.

Parece mentira, tenho saudade daqueles tempos difíceis. Eram bem melhores do que são os dias atuais.