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15 de nov. de 2014

MEU VOTO CONTRA MIM
O poder me dá a sensação de que, se me derem um ponto de apoio, eu moverei o mundo. Isso me dá medo até de mim.

Uma vez, faz muito tempo, eu votei para presidente. Foi no Jânio Quadros. Era o primeiro voto da minha vida. Fui na onda da vassoura. Foi em outubro de 1960. Ele me varreu do quadro de eleitores desse País. O tempo passou e eu também.

Voltei a votar para presidente da República, só agora. Inglório ano de 2014. Não votei no PT. Nunca votei no PT. Mas, naqueles dias, faz muito tempo, acreditei no PT.

Hoje, depois de macaco velho - não vejo preconceito em me chamar de macaco, nem de galo véio; só não me chamem de aranha que eu viro onça e sou capaz até de jogar no gol! - votei no PT.

Não, não estou me desdizendo; estou me reconhecendo. Ao votar, simplesmente votar nessa eleição que já está morta e sepultada, eu entrei na legião dos que legitimaram o sistema inviolável das urnas eletrônicas. Ponto final. Atirei bisteca no ventilador. Que porcaria.

E vou dizer por quê: é que eu votei no PT que nem é mais aquele PT em que não votei quando, faz 54 dilatados anos, nele cheguei a acreditar.

É que as urnas estavam nas mãos do PT que já não é mais aquele. São as mãos cheias de dedos, menos um, do PT que se deslumbrou com o poder; do PT fascinado, alucinado, patético e fanatizado em ter e ser poder pelo poder.

E poder, pra mim, é o avesso da liberdade. Sempre foi. Desde criança que sou mais que rebelde, um revoltado - como já diziam meus irmãos menores, meus amores, que padeciam com meus humores .

Eu obedecia pai e mãe, mas isso me encandecia às vezes; eu obedecia o professor, mas achava que ele não sabia aquilo tudo que ele dizia; eu obedecia e até obedeço ainda hoje as leis naturais, as leis da vida e as leis dos homens, mas que isso me dá uma gana, ah isso dá!

O poder me dá mais, me dá a sensação de que se me derem um ponto de apoio eu moverei o mundo. Isso me dá medo até de mim. Tanto é que, em tudo e por tudo, não só no jornalismo, eu não quero ser patrão e tampouco ter patrão.

O poder pra mim é uma estranha ambição que à medida que vai chegando vai ocupando o lugar da liberdade. O poder pra mim não é nada quando sinto que alguém se acha poderoso e tenta me enfraquecer.

E então, o PT pra mim é isso: conheceu o poder, apegou-se ao poder, e não sabe mais o que fazer com ele e nem sequer viver sem ele. O PT é um ente abjeto, escravo do poder. O poder é seu amo e senhor. Ativo e passivo. Uma coisa assim meio prostibular.

Tenho pena e aversão a quem, ou o que tenha a força de um gigante e a aplique como um gigante, perverso, desalmado e... tirano.  É tirano.

Esse jeito duro de ser do PT é uma democracia tipo assim como ele mesmo diz, uma metamorfose ambulante com sinais de ternura, rumo a uma tirania bolivariana, ou cubana, ou stalinista, ou simples e tristemente petista.

Maldita hora em que meu voto contra o PT virou-se contra mim nesse outubro vermelho e ficou a favor do PT que se presta às piores vilanias para ser e estar no poder.

Ah sim, antes que me esqueça devo lhes dizer que, como diz minha irmã mais velha, Circe Maria Siqueira da Cunha, "a utopia é possível!". E então, como ela, em verdade, em verdade, vos digo: "Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido"... E para o povo terá que ser devolvido.

RODAPÉ - E se os tucanos não mudarem o seu jeito de querer e de ser, fiquem certos de que nunca mais me prestarei a ficar diante de uma urna. Principalmente, se for eletrônica e o poder de abri-la estiver com quem esteve com todo o poder nesse outubro vermelho.