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28 de nov. de 2013

Nilton Santos e o colega

Tanto quanto um bom contador de histórias, tanto quanto um espirituoso piadista, Nilton Santos era um personagem fantástico de sua própria existência. Eu o conheci por intermédio do jornalista José Cruz, mais que amigo meu irmão de fé de todas as horas.

Certa feita, estávamos enfileirados nas poltronas do plenário da Câmara dos Deputados, num dia em que Nilton Santos seria homenageado. Eu estava ao lado esquerdo de Nilton Santos, do seu lado direito estava o Cruz e na outra poltrona mais pra lá, estava o saudoso e querido amigo Jorge Martins, presidente da Associação dos Cronistas Esportivos de Brasília, ghost writer de Nilton durante anos na coluna "A Enciclopédia do Futebol", editada muitos anos pelo Correio Braziliense.

Enquanto a mesa não o chamou para as honrarias previstas no palco iluminado do Parlamento, aquela fileira onde estávamos virou um ponto de atração irresistível.

Era uma romaria permanente de deputados ex-atletas, deputados cartolas, deputados da bancada da bola querendo abraçar Nilton Santos, prestando suas prévias e pessoais homenagens ao craque mais humilde e despojado de vaidade que já vi na vida e no futebol mundial.

E Nilton, humilde e simples, a todos respondia e correspondia com sorrisos e abraços sinceros, mas acanhados, como era de seu feitio.

E veio então, mais um deputado abraçar Nilton Santos. Dessa vez, era Giovani, aquele mineirinho boim de bola que jogou no Vasco e acho que no Cruzeiro e no Atlético também. Veio com respeito e abraçou com evidente veneração ao craque botafoguense e da Seleção Brasileira:

- Parabéns Nilton... Você merece todas as homenagens...
- Obrigado - e, sem reconhecer o jogador/deputado evitou falar seu nome - brigado, muito brigado...
- Giovane, eu sou o Giovane.
- Brigado, Giovane; muito brigado.
- Eu tenho muita honra de abraçá-lo como colega... - identificou-se o deputado querendo dizer que era boleiro, que era do ramo.
- Ora, você é muito gentil. Muito brigado.

Giovane logo despediu-se como se estivesse muito ocupado e tivesse outras coisas para fazer. Mal tinha se afastado dois ou três passos, Nilton Santos virou-se para mim e sussurrou:

- Ué, colega? Hi, eu não sabia que sou deputado...

E, como se não tivesse dito nas entrelinhas daquele curto diálogo que Giovane, baixinho e já gordo pela vida pública, não tinha pinta nenhuma de craque de bola, sentou-se com um sorriso comedido, um ar irônico e matreiramente simples nos olhos atentos à movimentação que antecedia a cerimônia em sua homenagem.

Nilton era assim. Simples e objetivo, como se estivesse o tempo todo jogando bola com cada momento da sua vida.